o teu nome



O teu nome é a minha casa e
não sei como dizer-te a falta que me fazes
quando viajo para este morno quotidiano entre papéis.
O teu nome é uma aldeia com cantigas
bailes concertinas e manhãs acordadas
ao passo dobrado dos domingos de festa.
O teu nome é um cortejo de mulheres em lágrimas
e de homens cortados ao meio pelo peso da terra.
O teu nome é um pássaro fechado
uma dor calada uma cicatriz aberta no fogo.
O teu nome é a minha casa uma lâmpada vertical
acesa no nevoeiro de março.
Quando a lâmina dos dias corta a direito no teu rosto
encosto o meu ouvido ao teu silêncio,
para que me escutes quando digo:
O teu nome é moldura do tempo onde
cresci junto aos ramos mais altos
da cerejeira no secolinho.
O teu nome é a minha casa. E quando
me chamam é a ti que chamam. É esse
o espelho de vozes que atravesso para
me encontrar comigo, com as tuas mãos nas
minhas mãos nas tuas mãos, e a noite do teu grito,
quando maio reabrir as rosas e
a ferida que te atravessa o peito.
Agora senta-te no banco
junto ao tronco cortado da oliveira.
E espera que a tua mãe chame para a mesa.
É primavera. E tu sabes como ouvir o teu nome
era água e cheiro de rosas
no sorriso de tua mãe,
pai.

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